MÉLANGES HULIN DE LOO
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artista no estilo de Albert Bouts, esta averiguado que,
em 1501, veio a Portugal e aqui se demorou 10 mezes,
um certo Roelof Yan Yelpen (1), que era pintôr e pro-
cedia de Louvain, terra em que precisamente viveu e
trabalhou o segundo destes mestres.
Depois de Jorge Afonso temos Gregorio Lopes, mas,
nêste, o caso da influência de Metsys é mais complexo do
que naquele. Genro de Jorge Afonso e, mais tarde, pintôr
régio como ele, Gregorio Lopes, tendo de executar, cêrca
de 1519, o retâbulo do altar de Santa Auta, para a Madré de
Deus, nâo révéla, nesse seu trabalho, nenhuma influência
do retâbulo da capela-môr destaigreja, retâbulo feito cêrca
de 10 anos antes e que é obra de um discipulo de Metsys,
senâo do seu atelier. Com uma vaga sugestâo de Memling, o
que indiscutivelmente sugestiona ali Gregorio Lopes é o
preciosismo tipico dos « maneiristas » de Antuerpia. E isto
nâo é de admirar quando se pensa no carâcter essencialmente
mundano da obra do mestre português, em que tanto pesou
senrpre o Oriente com toda a riqueza dos seus estranhos
exotismos, e nos lembramos, tambem, que nâo lhe era
necessario sequer ir estudar aqueles mestres â grande
metrôpole flamenga, nem mesmo deslocar-se para isso a
dentro do pais. No proprio convento, os bons modêlos de-
certo nâo lhe faltavam, visto procéder dali o admiravel
triptico do museu de Lisboa, atribuido a Mett de Blés, e
que é obra de um dos mais notaveis pintôres desse inte-
ressantissimo grupo (2).
E nâo é sô o retâbulo de Santa Auta que nos mostra
Gregorio Lopes livre da acçâo de Metsys. Nos seus paineis
do mosteiro de S. Bento, que deram origem â desi-
gnaçâo de « Mestre de S. Bento », porque durante tanto
(1) Comunicaçao de M. Hulin de Loo.
(2) Este triptico foi. em tempo, atribuido, pelo Prof. Joaquim de Vasconce-
los, a Mabuse (vide pag. 44 e 45 do cat. da Exp. de Arte Sacra Ornamental,
de 1895) e esta atribuiçâo parece confirmal-a a recente descoberta do Dr. Max
Friedlander, que encontrou, no museu de Copenhague, um desenho, obra
d’aquele artista, que deve ter servido de base â realisaçâo do painel central do
triptico.
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artista no estilo de Albert Bouts, esta averiguado que,
em 1501, veio a Portugal e aqui se demorou 10 mezes,
um certo Roelof Yan Yelpen (1), que era pintôr e pro-
cedia de Louvain, terra em que precisamente viveu e
trabalhou o segundo destes mestres.
Depois de Jorge Afonso temos Gregorio Lopes, mas,
nêste, o caso da influência de Metsys é mais complexo do
que naquele. Genro de Jorge Afonso e, mais tarde, pintôr
régio como ele, Gregorio Lopes, tendo de executar, cêrca
de 1519, o retâbulo do altar de Santa Auta, para a Madré de
Deus, nâo révéla, nesse seu trabalho, nenhuma influência
do retâbulo da capela-môr destaigreja, retâbulo feito cêrca
de 10 anos antes e que é obra de um discipulo de Metsys,
senâo do seu atelier. Com uma vaga sugestâo de Memling, o
que indiscutivelmente sugestiona ali Gregorio Lopes é o
preciosismo tipico dos « maneiristas » de Antuerpia. E isto
nâo é de admirar quando se pensa no carâcter essencialmente
mundano da obra do mestre português, em que tanto pesou
senrpre o Oriente com toda a riqueza dos seus estranhos
exotismos, e nos lembramos, tambem, que nâo lhe era
necessario sequer ir estudar aqueles mestres â grande
metrôpole flamenga, nem mesmo deslocar-se para isso a
dentro do pais. No proprio convento, os bons modêlos de-
certo nâo lhe faltavam, visto procéder dali o admiravel
triptico do museu de Lisboa, atribuido a Mett de Blés, e
que é obra de um dos mais notaveis pintôres desse inte-
ressantissimo grupo (2).
E nâo é sô o retâbulo de Santa Auta que nos mostra
Gregorio Lopes livre da acçâo de Metsys. Nos seus paineis
do mosteiro de S. Bento, que deram origem â desi-
gnaçâo de « Mestre de S. Bento », porque durante tanto
(1) Comunicaçao de M. Hulin de Loo.
(2) Este triptico foi. em tempo, atribuido, pelo Prof. Joaquim de Vasconce-
los, a Mabuse (vide pag. 44 e 45 do cat. da Exp. de Arte Sacra Ornamental,
de 1895) e esta atribuiçâo parece confirmal-a a recente descoberta do Dr. Max
Friedlander, que encontrou, no museu de Copenhague, um desenho, obra
d’aquele artista, que deve ter servido de base â realisaçâo do painel central do
triptico.