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MÉLANGES HULIN DE LOO
tempo foi conhecido o artista, e que sâo posteriores em
alguns anos âquele retàbulo, essa influencia é ainda, bem
que visivel, relativa. Para a encontrarmos em toda a sua
nitidez temos de esperar cêrca de uma década, pois sô em
1536, é que ela nos aparece assim numa das suas pinturas
da charola do convento de Gristo, de Tomar, o retàbulo
da capela de Nossa Senhora, sendo contudo tal influencia
ainda mais évidente no retàbulo da igreja de S. Joâo Bap-
tista, da mesma cidade, que deve ser posterior a 1540.
Esta influencia nâo afecta, porém, nem o seu carâcter
nem a sua técnica, que continuam a ser tradicionais.
Limita-se a alguns maneirismos e revela-se, sobretudo, em
pormenores de composiçâo, como sucede no seu painel
do « Festim de Herôdes »,. que nos traz logo à memoria
o reverso da porta direita do « Entêrro de Gristo », do
rnuseu de Antuerpia.
Quai a explicaçâo disto? A nosso ver, Gregorio Lopes
esteve, com pequena demora, nas Flandres, antes de 1536,
e viu entâo ali a obra de Metsys, pois sô esse facto pôde
explicar aquela sugestâo, impossivel sem o conhecimento
do original do mestre flamengo, ou de uma copia de que
nâo ha o menor vestigio.
Agora, e por ultimo, o caso de Frey Carlos, « flamengo
de Lisboa », isto é, nascido em Lisboa de pais flamengos. E
ao que jâ escrevemos deste artista, dando-o como uni dos
nossos pintôres que mais sofreram a influencia de Metsys,
temos de fazer agora uma modificaçâo imposta pelo mellior
estudo do seu triptico, do museu de Lisboa. Primeira em
data das suas obras até lioje conhecidas e anterior em quatro
anos à entrada do artista para o convento do Espinlieiro,
em 1517, as influências que este triptico révéla nâo perrni-
tem dar o seu autor como educado de origem num atelier de
Antuerpia. A influencia de Metsys em Frey Carlos é assim,
sem duvida, mais tardia e consequencia certamente da vinda
para Portugal de obras do grande pintôr flamengo, cabendo
dentro desta cronologia o triptico do museu de Coimbra,
MÉLANGES HULIN DE LOO
tempo foi conhecido o artista, e que sâo posteriores em
alguns anos âquele retàbulo, essa influencia é ainda, bem
que visivel, relativa. Para a encontrarmos em toda a sua
nitidez temos de esperar cêrca de uma década, pois sô em
1536, é que ela nos aparece assim numa das suas pinturas
da charola do convento de Gristo, de Tomar, o retàbulo
da capela de Nossa Senhora, sendo contudo tal influencia
ainda mais évidente no retàbulo da igreja de S. Joâo Bap-
tista, da mesma cidade, que deve ser posterior a 1540.
Esta influencia nâo afecta, porém, nem o seu carâcter
nem a sua técnica, que continuam a ser tradicionais.
Limita-se a alguns maneirismos e revela-se, sobretudo, em
pormenores de composiçâo, como sucede no seu painel
do « Festim de Herôdes »,. que nos traz logo à memoria
o reverso da porta direita do « Entêrro de Gristo », do
rnuseu de Antuerpia.
Quai a explicaçâo disto? A nosso ver, Gregorio Lopes
esteve, com pequena demora, nas Flandres, antes de 1536,
e viu entâo ali a obra de Metsys, pois sô esse facto pôde
explicar aquela sugestâo, impossivel sem o conhecimento
do original do mestre flamengo, ou de uma copia de que
nâo ha o menor vestigio.
Agora, e por ultimo, o caso de Frey Carlos, « flamengo
de Lisboa », isto é, nascido em Lisboa de pais flamengos. E
ao que jâ escrevemos deste artista, dando-o como uni dos
nossos pintôres que mais sofreram a influencia de Metsys,
temos de fazer agora uma modificaçâo imposta pelo mellior
estudo do seu triptico, do museu de Lisboa. Primeira em
data das suas obras até lioje conhecidas e anterior em quatro
anos à entrada do artista para o convento do Espinlieiro,
em 1517, as influências que este triptico révéla nâo perrni-
tem dar o seu autor como educado de origem num atelier de
Antuerpia. A influencia de Metsys em Frey Carlos é assim,
sem duvida, mais tardia e consequencia certamente da vinda
para Portugal de obras do grande pintôr flamengo, cabendo
dentro desta cronologia o triptico do museu de Coimbra,