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MÉLANGES HULIN DE LOO
daquele em que o artista flamengo é, que se saiba, designado
publicamente pela primeira vez, pelo seu apelido, nas refe-
rencias que lhe fez entâo o pintor-poeta Dominico Lam-
ponius. Longe das Flandres e em terra portuguêsa, Damiâo
de Goes parece assim, corno os intimos e contemporâneos
de Metsys, ignorar igualmente o nome de familia do artista,
nome que nâo aparece tambem no registo da sua morte, e
que entretanto Metsys nâo se esqueceu de inscrever,
em 1509, no seu admiràvel triptico da Legenda de
Saut’ Àna, aparecendo ainda nove vezes, embora sob forma
diferente, no arquivo da respectiva guilda de S. Lucas.
E’ no processo que, em 1571, a inquisiçâo faz a Damiâo
de Goes, que se encontra essa referencia. Vem, a folhas 106,
na lista que, para sua defesa, o antigo feitor de Portugal
em Flandres juntou aos autos, em 9 de Fevereiro de 1572,
e que compreende as obras de arte que mandou (do estran-
geiro), e as que deu, ele proprio (estando jâ no reino), a
diversas igrejas de Portugal.
Mencionando essas dàdivas com que procura demonstrar
o seu fervor religioso e desfazer a acusaçâo de heresia
que lhe é feita, diz Damiâo de Goes : « Item, dei à dita
igreja de Nossa Senhora da Varzêa (Alenquer) hum réta-
bli! o com portas em que esta pintado ho crucifixo peça
que val mais de cem cruzados, pela grande perfeiçâo da
obra, feito por mestre Quentino. » E para dar toda a impor-
tancia a esta parte das suas alegaçôes, nâo se esquece
Damiâo de Goes, nem de declarar que a lista que apre-
senta é « feita e scrita de sua mâo », nem de dizer que
a obra é « de grande perfeiçâo », garantindo ainda o seu
juizo critico com o valor monetàrio da pintura, devéras ele-
vado, pois os cem cruzados de oiro, em que Goes pelo
menos, a avalia, andariam entâo por cêrca de cinco mil
escudos ou sejam, aproximadamente, seis mil francos em
moéda belga.
E, no decorrer do processo, diversas testeraunhas de
defesa referem-se a essa pintura, que conheciam de a
MÉLANGES HULIN DE LOO
daquele em que o artista flamengo é, que se saiba, designado
publicamente pela primeira vez, pelo seu apelido, nas refe-
rencias que lhe fez entâo o pintor-poeta Dominico Lam-
ponius. Longe das Flandres e em terra portuguêsa, Damiâo
de Goes parece assim, corno os intimos e contemporâneos
de Metsys, ignorar igualmente o nome de familia do artista,
nome que nâo aparece tambem no registo da sua morte, e
que entretanto Metsys nâo se esqueceu de inscrever,
em 1509, no seu admiràvel triptico da Legenda de
Saut’ Àna, aparecendo ainda nove vezes, embora sob forma
diferente, no arquivo da respectiva guilda de S. Lucas.
E’ no processo que, em 1571, a inquisiçâo faz a Damiâo
de Goes, que se encontra essa referencia. Vem, a folhas 106,
na lista que, para sua defesa, o antigo feitor de Portugal
em Flandres juntou aos autos, em 9 de Fevereiro de 1572,
e que compreende as obras de arte que mandou (do estran-
geiro), e as que deu, ele proprio (estando jâ no reino), a
diversas igrejas de Portugal.
Mencionando essas dàdivas com que procura demonstrar
o seu fervor religioso e desfazer a acusaçâo de heresia
que lhe é feita, diz Damiâo de Goes : « Item, dei à dita
igreja de Nossa Senhora da Varzêa (Alenquer) hum réta-
bli! o com portas em que esta pintado ho crucifixo peça
que val mais de cem cruzados, pela grande perfeiçâo da
obra, feito por mestre Quentino. » E para dar toda a impor-
tancia a esta parte das suas alegaçôes, nâo se esquece
Damiâo de Goes, nem de declarar que a lista que apre-
senta é « feita e scrita de sua mâo », nem de dizer que
a obra é « de grande perfeiçâo », garantindo ainda o seu
juizo critico com o valor monetàrio da pintura, devéras ele-
vado, pois os cem cruzados de oiro, em que Goes pelo
menos, a avalia, andariam entâo por cêrca de cinco mil
escudos ou sejam, aproximadamente, seis mil francos em
moéda belga.
E, no decorrer do processo, diversas testeraunhas de
defesa referem-se a essa pintura, que conheciam de a