MÉLANGES HULIN DE LOO
173
vêrem, com outras obras de arte, na casa que Damiâo de
Goes habitava entâo em Lisboa, casa que era um verda-
deiro museu e, como tal, considerada e visitada por nacio-
nais e estrangeiros da mais elevada categoria. E este facto
é mais uma prova do grande apreço em que Damiâo de
Goes tinha esse retâbulo, por isso que, tendo-o trazido,
consigo, das Flandres, quando de là veio, para Portugal,
pela derradeira vez, em 1545, guardou-o para seu prazer,
sô se privando dêle para o dar a Nossa Senhora da Varzêa,
em Alenquer, igreja da sua maior devoçâo, por ser aquela
em que fora batisado e em que erigiu, depois, capela para
si e seus herdeiros.
Escrivâo e feitor nas Flandres e grande amigo dos
flamengos, por cuja independencia lutou no cêrco de
Louvain, Damiâo de Goes, que foi um diplomata e um
letrado com fama europeia, e em contacto intimo com os
homens mais célébrés do seu tempo, como Erasmo, era,
como se vê, um verdadeiro amador de arte no sentido
nobre da palavra, e que bem mereceu, por isso, a honra
que lhe fez Durer retratando-o da forma admiravel porque
o retratou.
E a comproval-o temos ainda, além do que é sabido
por outras fontes, o que este processo nos diz tambem da
predileçâo de Damiâo de Goes por artistas nâo menos
notaveis do que Metsys, mas de orientaçâo diferente, o
que mostra o eclectismo e segurança de gôsto do diplomata
português. Admirador de mestre Quentino e de Simâo
Bening, Damiâo de Goes é-o tambem, tanto ou mais, de
Jeronimo Bosch, pois, além do admiravel triptico : « As
Tentaçôes de Santo Antâo », que é hoje uma das glôrias
do museu de Lisboa, possuiu, pelo menos, mais dois
trabalhos deste pintôr, tendo, um, como assunto, « A Coroa-
çâo de Nosso Senhor Jésus Cristo », e, o outro, « As
Tentaçôes de S. Job ».
Para quem conhece a obra de Bosch e os problemas
que o seu estudo oferece, a referencia à « Tentaçôes
173
vêrem, com outras obras de arte, na casa que Damiâo de
Goes habitava entâo em Lisboa, casa que era um verda-
deiro museu e, como tal, considerada e visitada por nacio-
nais e estrangeiros da mais elevada categoria. E este facto
é mais uma prova do grande apreço em que Damiâo de
Goes tinha esse retâbulo, por isso que, tendo-o trazido,
consigo, das Flandres, quando de là veio, para Portugal,
pela derradeira vez, em 1545, guardou-o para seu prazer,
sô se privando dêle para o dar a Nossa Senhora da Varzêa,
em Alenquer, igreja da sua maior devoçâo, por ser aquela
em que fora batisado e em que erigiu, depois, capela para
si e seus herdeiros.
Escrivâo e feitor nas Flandres e grande amigo dos
flamengos, por cuja independencia lutou no cêrco de
Louvain, Damiâo de Goes, que foi um diplomata e um
letrado com fama europeia, e em contacto intimo com os
homens mais célébrés do seu tempo, como Erasmo, era,
como se vê, um verdadeiro amador de arte no sentido
nobre da palavra, e que bem mereceu, por isso, a honra
que lhe fez Durer retratando-o da forma admiravel porque
o retratou.
E a comproval-o temos ainda, além do que é sabido
por outras fontes, o que este processo nos diz tambem da
predileçâo de Damiâo de Goes por artistas nâo menos
notaveis do que Metsys, mas de orientaçâo diferente, o
que mostra o eclectismo e segurança de gôsto do diplomata
português. Admirador de mestre Quentino e de Simâo
Bening, Damiâo de Goes é-o tambem, tanto ou mais, de
Jeronimo Bosch, pois, além do admiravel triptico : « As
Tentaçôes de Santo Antâo », que é hoje uma das glôrias
do museu de Lisboa, possuiu, pelo menos, mais dois
trabalhos deste pintôr, tendo, um, como assunto, « A Coroa-
çâo de Nosso Senhor Jésus Cristo », e, o outro, « As
Tentaçôes de S. Job ».
Para quem conhece a obra de Bosch e os problemas
que o seu estudo oferece, a referencia à « Tentaçôes